Aqui temos uma coletânea das lembranças que envolveram a minha passagem por este lugar maravilhoso que me acolheu e me batizou. Aqui encontrei um rio cercado de flores. Admirava o vôo dos beija-flores beijando as flores. Passei a invejar os beija-flores e sonhar em voar também.
Na minha infância, durante um jogo de prenda, quando perguntavam: “O homem voa?”. Só eu respondia: “Voa!” Porque descobri o segredo de que o homem poderia voar. Chegou o dia em que desenvolvi as técnicas que permitiriam o vôo dos seres humanos e eles passaram a partilhar os céus juntamente com os pássaros.
Este local acabou passando a se chamar “Rio das Flores” e eu acabei ganhando o apelido de “Pai da Aviação”.
Hoje, quando, durante um jogo de prenda, perguntam: “O homem voa?” Todos respondem: “Voa!”
Em 1873, a Fazenda do Casal pertencia ao meu avô materno Comendador Francisco de Paula Santos.
Quando o meu pai, Henrique Dumont, acabou a empreitada de construção do trecho da subida da Serra da Mantiqueira em Minas Gerais da Estrada de Ferro Central do Brasil, meu avô convidou-o a administrar sua Fazenda do Casal.
Em 1874 minha família muda-se para a Fazenda do Casal. Viemos do sítio de Cabangú, onde nasci em Palmira, Minas Gerais. Hoje a cidade chama-se Santos Dumont em minha homenagem, minha família era assim constituída:
Meu pai Henrique Dumont, nascido em 20 de julho de 1832 no Distrito da Guinda em Diamantina, em Minas Gerais e batizado em 30 de julho de 1832 na Igreja de Santo Antonio de Diamantina.
Minha mãe, Francisca de Paula Santos, nascida em Ouro Preto, Minas Gerais, em 01 de outubro de 1835.
Meus pais se casaram-se em 06 de setembro de 1856 na Igreja de Nossa Senhora do Pilar em Ouro Preto, Minas Gerais.
Henrique Santos Dumont nascido em 15 de agosto de 1857 em Ouro Preto, Minas Gerais.
Maria Rosalina Santos Dumont, nascida em 13 de fevereiro de 1860 na Fazenda Congo Seco, Minas Gerais.
Fazenda Jaraguá, onde nasceram mais três irmãos.
Virgínia Santos Dumont, nascida em 20 de dezembro de 1866 na Fazenda Jaraguá no Rio das Velhas, Minas Gerais.
Luiz Santos Dumont, nascido em 16 de maio de 1869 na Fazenda Jaraguá no Rio das Velhas, Minas Gerias.
Gabriela Santos Dumont, nascida em 26 de março de 1871 na Fazenda Jaraguá, no Rio das Velhas em Minas Gerais.
E Eu, Alberto Santos Dumont, nascido em 20 de julho de 1873 no Sítio de Cabangú, Estação de Rocha Dias, Distrito de João Aires, próximo a cidade de Palmira, Minas Gerais, Hoje a cidade leva o meu nome Santo Dumont. Nasci exatamente no dia em que meu pai completava 41 anos de idade.
Nessa fazenda vivemos cinco ano, de 1874 a 1879. Meu pai administrou a fazenda desenvolvendo o cultivo do café e adquiriu grande experiência nessa atividade.
Em 02 de maio de 1875 nasceu minha irmã Sophia.
Em 28 de março de 1877 nasceu minha irmã Francisco encerrando assim o grupo de oito irmãos.
Interessante é que o primeiro dos oito irmãos foi Henrique, nome igual ao do pai, e a última foi Francisca, nome igual ao da mãe.
Em 30 de julho de 1876, em Silveiras (SP), o médium Ernesto Castro recebia espontaneamente a seguinte mensagem do espírito de Estêvão Montgolfier:
“VENCER O ESPAÇO COM A VELOCIDADE DE UMA BALA DE ARTILHARIA, EM UM MOTOR QUE SIRVA PARA CONDUZIR O HOMEM, EIS O GRANDE PROBLEMA QUE SERÁ RESOLVIDO DENTRO DE POUCO TEMPO. ESSA MÁQUINA PODEROSA DE CONDUÇÃO NÃO HÁ DE SER UMA UTOPIA, NÃO. O MISSIONÁRIO, QUE TRAZ ESSE APERFEIÇOAMENTO À TERRA, JÁ SE ACHA ENTRE VÓS. O PROGRESSO DA AVIAÇÃO AÉREA, QUE TANTOS PROSÉLITOS TEM ACHADO E TANTAS VÍTIMAS HÁ FEITO, NÃO ESTÁ, PORTANTO, LONGE DE REALIZAR-SE."
Estêvão Montgolfier foi um dos precursores do balonismo.
Em 1903 a Federação Espírita Brasileira, em uma passagem pelo Rio de Janeiro, entregou-me um diploma do fato..
Na internet encontraremos na página da Federação Espírita Brasileira: http://www.vinhadeluz.com.br/site/noticia.php?id=2381
No dia 20 de fevereiro de 1877, fomos batizados, eu e minha irmã Sophia, na Igreja de Santa Teresa. O Padre Theodoro Theotônio da Silva Carolina celebrou o nosso batismo. Os meus padrinhos foram: Dr. José Augusto de Paula Santos e Dª Maria Rosalina Dumont. Os padrinhos de minha irmã foram: Comendador Francisco de Paula Santos e Dª Joanna Perpétua de Oliveira Santos representada por uma procuração de Dª Maria Rosalina Dumont.
A minha Certidão de Batismo e da Sophia
Cópia xerográfica (parcial) dos Registros de Batismo de Alberto Santos Dumont e de sua irmã Sophia Santos Dumont, em 20 de julho de 1877, conforme assentamentos no Livro de “Registros de Batizados da Igreja Matriz de Santa Theresa D’Ávila”, da Freguesia de Santa Theresa de Valença – da Diocese de Valença – RJ – Volume I, folha 41. Tais registros receberam os números 2.421 (Alberto e 2422 (Sophia):
Transcrição dos registros de Batismo de Alberto Santos Dumont e de sua irmã Sophia.
Alberto – Aos 20 de fevereiro de 1877, nesta Matriz de Santa Theresa de Valença, batizei solenemente o inocente Alberto, nascido a 20 de julho de 1873, filho legítimo do Dr. Henrique Dumont e Francisca Dumont, foram padrinhos Dr. José Augusto de Paula Santos e Dra. Maria Rosalina Dumont.
O Vigário Pe. Thedoro Theotônio da Silva Carolina.
Sophia – Aos 20 de fevereiro de 1877, nesta Matriz de Santa Theresa de Valença, batizei solenemente a inocente Sophia, nascida, a 20 de julho de 1873, digo, nascida a 02 de maio de 1875, filha legítima do Dr. Henrique Dumont e Dª Francisca dos Santos Dumont; foram padrinhos o Comendador Francisco de Paula Santos e Dª Joanna Perpétua de Oliveira Santos, representada, por uma procuração, de Dª Maria Rosalina Dumont.
O Vigário Pe. Theodoro Theotônio da Silva Carolina.
Em 1879, meu pai conheceu outros dois fazendeiros do vale do Paraíba – Luiz Pereira Barreto e Martinico Prado. Eles haviam chegado de uma viagem à região da nascente vila de São Sebastião do Ribeirão Preto. Os dois, entusiastas das terras do então “oeste paulista”, convenceram meu pai de que o futuro da cafeicultura estava naquela região a ser desbravada. Meu pai viaja de trem até Casa Branca, ponto final dos trilhos da Mogiana. Daí ele viaja três dias a cavalo e fica maravilhado com as terras do “oeste paulista”. Retorna ao Rio, desfaz a sociedade com o sogro e, em 1879, deixa a família na Rua Malvina em São Francisco Xavier no Rio de Janeiro. Foi para Ribeirão Preto e comprou de José Bento Diniz Junqueira a fazenda Arindeúva, que já tinha 100.000 pés de cafés.
Em 1880 nossa família se mudou para Ribeirão Preto acompanhada por 30 escravos escolhidos. Viajamos de trem até Campinas e de lá seguimos a cavalo, pois não havia estrada. Numa liteira ia minha mãe com minha irmã menor, a Chiquinha de apenas 2 anos. Nós outros íamos amarrados às selas, com dois escravos à pé, guiando os animais. Quando chegamos à nova propriedade, as únicas acomodações que encontramos era um rancho de sapé sobre chão de terra batida onde todos passamos a noite. No dia seguinte foi iniciada a construção de uma casa com a madeira da própria fazenda.
Meu pai nos anos seguintes continuou comprando terras, até adquirir em 1887 a última gleba, de José Augusto Alves Junqueira – estava formada a fazenda Dumont, com 6.108 alqueires e 5,7 milhões de pés de café, a maior do mundo. Os trilhos da Estrada de Ferro Mogiana haviam chegado a Ribeirão Preto em fins de 1883. Para agilizar a colheita, meu pai compra da Mogiana uma estrada de ferro ligando a fazenda até a estação – além dessa ligação principal, de 23 km, fez mais 85 km de trilhos dentro da fazenda, em quatro ramais. O transporte do café era feito por 40 vagões. Para tracioná-los dispunha de cinco locomotivas.
Colocação de meu busto na Praça Presidente Manuel Duarte.
Colocação de placa do meu batismo na frente da igreja.
Comemoração do meu batizado, em 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005 pela Prefeitura de Rio das Flores.
Comemoração do meu batizado, em 2009, pela Câmara de Vereadores de Rio das Flores.
Restauração do livro de batismo pelo Professor Moacyr Bastos.
Criação de uma sala para mim em 2016.
Confecção de uma réplica da minha pessoa em 2017 pelo artista Jerônimo Magalhães.
Apresentação na Casa de Cultura da Mostra Viva composta de exposição e palestra pelo artista fotográfica Thiago Wierman. Igreja de Santa Teresa
Agradeço aos rio-florenses e a seus dirigentes por terem destinado um local exclusivo para mim.
Nesse local eu me sinto a vontade.
Não vou mais sair daqui.
Como cidadão eu nasci aqui porque meu primeiro documento é a minha certidão de batismo.
Quero agradecer também ao artista Jerônimo Magalhães por ter perseguido a perfeição na confecção da minha réplica.
Agradecer a quem colocou o meu busto na praça da frente da igreja e também a quem colocou a placa do batismo na frente da igreja.
Agradecer ao Professor Moacir Bastos por ter restaurado o livro que contem o meu batismo.
Agradecer a Alfredo Muradas Dapena por ter compilado esta coletânea das lembranças que marcam a minha passagem por esta terra maravilhosa.
Esta coletânea está sujeita a correções, atualizações e complementações. Quem quiser cópia desta coletânea, solicite pelo meu email que terei prazer em enviar: albertosdumont.rf@gmail.com.
Para lembrar-se de mim, cantem a música: “A Conquista do Ar” de Eduardo das Neves que se encontra no final desta coletânea, composta em 1902, no auge de minha carreira.
Rio das Flores, 25 de dezembro de 2017.
Abraços.
- Cronologia de Alberto Santos Dumont – Tenente Brigadeiro Nelson Freire Lavenere Wanderley.
- Síntese Cronológica da Aeronáutica Brasileira (1685 – 1941) Fernando Hipólito da Costa
- Centenário do primeiro vôo de avião e o seu inventor no Brasil e na França – Francisco Laélio de Oliveira Bedê.
- Rio das Flores e suas Fazendas – Moacyr Bastos
-Vida de Henrique Dumont: https://www.geni.com/people/Henrique-Dumont/6000000015810266465
Vida de um diamantinense ilustre: Henrique Dumont:
http://www.altitudemaxima.com.br/noticias/henridumont-osfeitosextraordinariosdeumgrandediamantinenseignoradoporseupovo
Federação Espírita Brasileira.
Eduardo das Neves fez a letra da cançoneta “Homenagem a Santos Dumont”, também conhecida como “A Europa curvou-se ante o Brasil”.
A Europa curvou-se ante ao Brasil
E clamou parabéns em meigo tom
Surgiu lá no céu uma estrela
Apareceu Santos Dumont.
Terra adorada, és meu Brasil
Ó terra amada, de encantos mil.
Salve estrela da América do Sul
Terra amada do índio guerreiro
A maior glória do século vinte
Santos Dumont – um brasileiro
Terra adorada, és meu Brasil
Ó terra amada, de encantos mil.
O Brasil, cada vez mais poderoso,
Menos teme o rugir fero do bretão;
É forte nos campos e nos mares
É hoje nos ares com seu balão.
Terra adorada, és meu Brasil
Ó terra amada, de encantos mil.
A conquista do ar aspirava.
A velha Europa, poderosa e viril,
Rompendo o véu que a ocultava
Quem ganhou foi o Brasil!
Terra adorada, és meu Brasil
Ó terra amada, de encantos mil.
Por isso o Brasil tão majestoso,
Do século tem glória principal
Gerou no seu seio grande herói
Que hoje tem renome universal.
Terra adorada, és meu Brasil
Ó terra amada, de encantos mil.
Assinalou para sempre o século vinte,
O herói que assombrou o mundo inteiro:
Mais alto que as nuvens, quase um deus
És Santos Dumont – um brasileiro.